segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Mímica

Eu gosto das gargalhadas que espasmam barrigas.
Eu também me atraio por sorrisos de lado, mas sinceros.
Eu prefiro o perfume da pele, desses que ficam no ar dos nossos pensamentos. Não só aqui fora e se esvaiam.
Se o que foi dito não foi entendido, eu prefiro o franzir de sobrancelhas a um sim com a cabeça. Coisa mais mecânica.
Eu gosto do choro de ficar vermelha e implodir.
Eu não suporto lágrimas que caem sem se sentir.
Eu prefiro o andar desajeitado, não quero desfiles.
Eu prefiro o pé inteiro no chão, não gosto de saltos.
A cabeça no vento, de esvoaçar cabelos e sentir as pálpebras fechando.
A noite, a música, o mistério.
O dia, a dança, a máscara que cai.
Eu quero o novo, o brilho do campo da janela do meu pensamento.
Eu não quero, agora, vozes humanas tentando, sem conseguir, dizer quem são.
Eu quero o ser, aqui, agora.
Eu quero a vontade e a ação.
A consciência e seus nãos no chão.
Eu não quero ter que amanhecer com a cabeça pesando.
Eu quero a fuga dessas proporções. Tantos números, tudo tão medido.
Eu quero o imenso, o soluço do beijo perdido, a alegria do querer eternizar o momento, o tempo parado no olhar e o mundo rodando.
Eu quero o toque, o gesticular, o abraço.
Eu não quero a permutação.
Eu quero sentir enquanto posso.
Eu quero a caneta tentando acompanhar as linhas da imaginação.
Eu quero as portas batendo, a poeira saindo do lugar com o vento.
Eu não quero só a imagem do espelho, da foto, do quadro, da lembrança.
Eu não quero as desculpas da boca pra fora.
Eu não quero o ter que me esconder.
Eu quero portas e janelas escancaradas.
Eu quero o não ter que dizer nada e o entender só com o expressar.
Como num jogo de mímica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Me indentifiquei bastante, é de sua autoria?

Ludmila disse...

Sim, é. Quem escreve aí?