segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Luz

Com o tempo tudo perde a cor pra depois virar luz.
Luz de idéias, luz do sol, luz do fim do túnel, luz das estrelas, luz do horizonte, luz dos olhos, do caminho.
Luz! Seja de ninguém ou do mundo!
Eu custo a acreditar em tanta coisa, mas
Eu costumo amar
E tudo começa aqui
e termina ali
E aqui, agora e fim!

Mímica

Eu gosto das gargalhadas que espasmam barrigas.
Eu também me atraio por sorrisos de lado, mas sinceros.
Eu prefiro o perfume da pele, desses que ficam no ar dos nossos pensamentos. Não só aqui fora e se esvaiam.
Se o que foi dito não foi entendido, eu prefiro o franzir de sobrancelhas a um sim com a cabeça. Coisa mais mecânica.
Eu gosto do choro de ficar vermelha e implodir.
Eu não suporto lágrimas que caem sem se sentir.
Eu prefiro o andar desajeitado, não quero desfiles.
Eu prefiro o pé inteiro no chão, não gosto de saltos.
A cabeça no vento, de esvoaçar cabelos e sentir as pálpebras fechando.
A noite, a música, o mistério.
O dia, a dança, a máscara que cai.
Eu quero o novo, o brilho do campo da janela do meu pensamento.
Eu não quero, agora, vozes humanas tentando, sem conseguir, dizer quem são.
Eu quero o ser, aqui, agora.
Eu quero a vontade e a ação.
A consciência e seus nãos no chão.
Eu não quero ter que amanhecer com a cabeça pesando.
Eu quero a fuga dessas proporções. Tantos números, tudo tão medido.
Eu quero o imenso, o soluço do beijo perdido, a alegria do querer eternizar o momento, o tempo parado no olhar e o mundo rodando.
Eu quero o toque, o gesticular, o abraço.
Eu não quero a permutação.
Eu quero sentir enquanto posso.
Eu quero a caneta tentando acompanhar as linhas da imaginação.
Eu quero as portas batendo, a poeira saindo do lugar com o vento.
Eu não quero só a imagem do espelho, da foto, do quadro, da lembrança.
Eu não quero as desculpas da boca pra fora.
Eu não quero o ter que me esconder.
Eu quero portas e janelas escancaradas.
Eu quero o não ter que dizer nada e o entender só com o expressar.
Como num jogo de mímica.

sábado, 6 de setembro de 2008

Olhos estagnados num ponto infinito

Eu tenho algo gigante aqui dentro, que de tanto tentar definir, fugiu de palavras, de olhos tímidos e lágrimas a dois. Fugiu ao tempo, quebrou as barreiras do exprimir, e às vezes, se essas barreiras voltam a reconstruírem-se, eu volto a reprimir. Reprimir o que eu nem sei o quê, sorrir sabendo o porquê, cantando porque me faz bem, olhando o sabor e sentindo o caminho que se estende aqui. Tão perto, tudo tão curto. Tudo tão bom e duvidoso, tudo tão interrogativo, mas intenso, e isso é no que eu insisto e o motivo de tudo isto. Penso, repenso, não sai, não sai nada que te convença de que falo a verdade, nada que te convença de que sou quem mostro e digo ser. Mas algo que te deixe com as mesmas dúvidas com as quais te fez pensar algo sobre mim.

domingo, 22 de junho de 2008

O Verso do Reverso

O fel tem uma metade de mel
A rima é a essência do cordel
A tempestade é um grande banho de chuva
A fruta proibida pode ser uma deliciosa uva
A lágrima do choro é a mesma da do riso
A ilha deserta é um paraíso

O cacto não fura. É tudo psicológico
Vivemos em um jardim ilógico
Onde tudo é encarado com lamento
Essa mania desses seres caóticos
De achar que tudo é sofrimento

A navalha já não corta
A flor que dorme não está morta
O escorregão vira um passo de dança
O dia-a-dia numa brincadeira de criança

(Musicada)

domingo, 16 de março de 2008

Ciclo

Tudo o que é certo tem que errar às vezes
O que é reto se entortará
O que é belo, feio tornar-se-á
O que é concreto se dissolverá

A água volta ao seu lugar
Quando cai paulatinamente das nuvens de algodão

Os cílios voltam a se tocar
Os lábios voltam

Os rios voltam a desaguar no mar
As ondas voltam

O céu volta a brilhar
As estrelas voltam

As folhas voltam a cair
As chuvas voltam

O sol se pôs
A lua voltou a brilhar
As coisas sempre voltam para o seu lugar


(uma música minha, gerada de um momento de perscrutação)
;)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Do Febo à Anarquia

Sou o amador das dores sanadas
Das flores e peles morenas
Sou amante das moças que escrevem
Sem toque nem nada, em letras verdes e douradas

Sou amante das coisas simples
Do cheiro da chuva, do som das águas

Se no dilúvio mostrar-me "Cazuza"
Tome-me o exagerado em teus momentos calmos

E se te afogardes com música
Te ofereço um enlevo de vozes e poemas, para te afogares em palavras

Ser amante é ser a nota que te toca
O ouvido que te enxerga a medula
A boca que te beija a estrutura
A alma, a pele, a jura.

Estar amante é tocar sem sentir;
Solfejar sem ouvir;
Ver apenas as mímicas, os gestos;
Cheirar o vento que te toca as faces;
Viver por um momento, como se o mundo não girasse...

Mas o platônico é comer alfaces de enfeite
Morrer em rios de deleite
É amar a rua da amargura

É recomeçar o infinito num ímpeto
É não reconhecer-se num limbo
É dançar os barulhos caóticos

Seríamos mais profissionais das alturas?
E desejaríamos mais cores que auguras?
Seriamos como os cisnes cinzentos, Os queijos bolorentos, as peles escuras?

Sonharíamos sem utopias?
Viveríamos na espera de maravilhas?
Lutaríamos a favor dessas peles e cisnes, se nossa psique carecesse de mais logias?

Mas mergulhar em ti é anarquia
É bagunça de menino em cama
É sugar-te na idéia e brigar de travesseiro
Fazer de ti amante
NAS LETRAS
NA VIDA.

Música, poema, canto, palavras soltas, rimas, vozes, acordes
Atar e embaralhar
Perceber que existe na vida, nas letras
Palavras e vivências unas, em vidas duas.




Por: Adriano Sargaço e Ludmila Patriota

(Numa composição, sem lombras e laricas, principiada de uma idéia e deixa de Adriaço) ;)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Sorrisos

Tem os de alegria, os de felicidade, os de sagacidade, os de maldade, os de zombaria, os sem graça, os amarelos, os de lado, os inconstantes, os brilhosos, brancos, perfeitos, os opacos, vazios, feios, os momentâneos, os intencionais, os espontâneos. Há ainda os desentendidos, vivos, largos, pequenos, grandes, duradouros, estridentes, entredentes...

É sorrindo que se entende a vida!

Um mar num grão

Ouvir o tilintar dos garfos nos pratos com toda a minunciosidade;
Enxergar os detalhes do desenho que o seu irmão mais novo acabou de te mostrar ;
Ver para além das pinturas;
Se olhar no espelho todas as manhãs;
Sentir a areia;
Se sujar de chocolate;
Sorrir com bobagens;
Fotografar a espinha do próprio nariz ;
Colher a flor do próprio jardim;
Admirar sua própria casa;
Dizer aquelas coisas mínimas, mas que deixam as pessoas felizes;
Dançar pela sala;
Dizer bom-dia a quem não conhece;
Se empanturrar de doces;
Chorar de alegria;
Compor coisas meramente banais;
Sentir o cheiro da chuva;
Imaginar a ilustração do livro que se lê;
Cantarolar no chuveiro;
Falar bobagens ao telefone;
Sentir saudades da pessoa que está ao seu lado, ou dentro de você;
Conversar com seu travesseiro;
Ver a lua do ângulo da janela do seu quarto;
Escutar música um dia inteiro;
Ler um dia inteiro;
Ficar de pernas pro ar um dia inteiro;
Suar, depois de ter pulado 12454798965236654 vezes só por ter acontecido algo de bom hoje;
Mandar uma mensagem, só perguntando como estão as pessoas;
Fazer gororobas e comê-las com todo o ardor, assistindo filme, sozinha;
Reviver aqueles velhos diários;
Reler aquelas velhas cartas;
Sonhar acordada;
Sambar as músicas romanescas;
Chorar com os filmes de comédia;
Se encantar com os de terror;
Fascinar-se pelos lugares, coisas, pessoas, paisagens, cores, flores, cd's, livros, o som do violão, da voz, do cantar dos pássaros, do solfejar das notas, dos sorrisos largos...